Numa entrevista recente aos economistas Edmund Phelps e Larry Summers, o professor Phelps – vencedor do prémio Nobel da economia em 2006 – avançou com a sua teoria explicativa do que esteve por trás das revoluções na Tunísia e no Egipto:
Depois de falar com os especialistas, tenho a certeza que estou certo sobre isso. A revolta da juventude urbana na Tunísia e no Egito é deve-se a vontade de ter carreiras … vontade de poder começar o seu próprio negócio … ser capaz de integrar o quadro de uma empresa sem ter conexões (ou seja, apenas com o seu CV e não por pessoas que conhece ou sua família).
Penso que o Egipto e a Tunísia são exemplos de outro sistema económico [e não capitalismo moderno]… sistema que, por falta de melhor palavra, chamamos de “corporativismo”. Neste sistema existe propriedade privada … uma das coisas que o Egipto fez, por exemplo, nos últimos dez ou quinze anos foi a privatização de muitas empresas. Essas empresas passaram a ser detidas por pessoas das forças armadas. Corporativismo não significa propriedade da sociedade, isto é socialismo. No corporativismo há um grande dirigismo central do sector privado por parte do governo. Há muita regulação … com muita comunicação nos dois sentidos com o setor privado a buscar favores do governo e do governo em busca de favores do setor privado. No Egipto e na Tunísia, existia um sistema corporativista muito rudimentar que estava a ser extensivamente explorado pelos governantes que se aproveitaram dos seus poderes para instalar os seus comparsas como gestores e proprietários de várias empresas. A maior parte da população, muitos dos quais com formação superior, não conseguia entrar no sistema! Não arrajavam emprego nestas empresas porque os postos estão reservados estritamente para os insiders. Eles nem sequer podem vender as suas frutas nas ruas sem uma licença – e não há muitas dessas [licenças] a serem distribuidas. É um sistema muito fechado … um sistema que é quase tão longe do capitalismo moderno como você pode imaginar! O capitalismo moderno que funciona bem permite que qualquer pessoa crie uma empresa, inicie um negócio por si mesma, tenha ideias novas e trabalhe no seu desenvolvimento.
É claro que há muitas teorias que dizem que (como em todas as situações de instabilidade social) a culpa é dos países ricos do ocidente, pese o facto da Tunísia de Ben Ali e o Egipto de Mubarak serem aliados das potências ocidentais até ao seu derrube. Eu alinho com Edmund Phelps quando considera que na base das revoltas estiveram problemas sociais criados por uma elite governativa que não partilhava o poder e que sequestrou a economia do país, criando um clube exclusivo em que alguns entram com mérito mas a maioria entra porque mantém algum tipo de relação com as “pessoas certas”.
Numa sociedade em que abundam instituições extractivas com milhões a clamar por inclusão, a estabilidade é obtida por intimidação policial ou militar quando o ideal é segurar a sociedade por via da liberdade, prosperidade generalizada e promoção da participação no processo decisório.
A falta de equilíbrio entre as instituições e a limitação da participação generalizada da população na vida sócio-política da nação cria uma falsa estabilidade. Neste frágil estado, o cozinheiro usa a força para tapar a panela de pressão até ao ponto de explosão, um ponto que pode ser evitado se o coziheiro decidir-se pela abertura da tampa para deixar o caldeirão respirar.