O que reserva o futuro próximo para o basquetebol angolano

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Selecção de Angola no Campeonato Mundial sub-17 da FIBA – Dubai 2014 (Fonte: Fiba)

O presidente da Federação Angolana de Basquetebol (FAB), Paulo Madeira, disse recentemente ao Jornal dos Desportos que está preocupado com o futuro do basquetebol nacional, sobretudo, porque tem encontrado dificuldades em financiar as actividades das equipas de base e pelo emagrecimento do campeonato nacional sénior feminino, que passa a ter apenas três equipas piorando ainda mais a sua minúscula dimensão.

O consulado de Paulo Madeira a frente da FAB fica marcado por momentos de esperança como a vitória no Afrobasket sub-16 e presença no mundial sub-17 da equipa orientada por Manuel Silva e momentos alarmantes como a perda dos títulos africanos em sénior masculino e feminino que deixa a equipa feminina afastada dos Jogos Olímpicos 2016 e obriga a equipa masculina à lutar por uma vaga dificílima num torneio pré-olímpico.

Para 2016 e  para o futuro próximo, como na generalidade da vida social em Angola, o basquetebol enfrentará sérias dificuldades financeiras que poderão afectar os clubes e, consequentemente, o desempenho das selecções nacionais.

O início da presente época do BIC Basket tem sido marcado pela ausência de alguns jogadores estrangeiros por razões desconhecidas e antes mesmo de começar a competição o Sporting do Bié anunciou a desistência do campeonato por incapacidade financeira. No campeonato sénior feminino a quarta equipa abandonou a competição por dificuldades financeiras e o campeonato nacional passou a ter apenas três equipas. Recentemente nos campeonatos nacionais sub-16, oito equipas desistiram por problemas financeiros (4  em feminino e 4 em masculino) e a nível das selecções jovens faltam fundos para cumprir os objectivos traçados pela FAB segundo Paulo Madeira.

temos uma preocupação, principalmente a nível das selecções de formação, que são as que têm mais dificuldades em trabalhar. Temos de continuar à procura de apoios e de patrocinadores para que possamos gerir os centros especiais de treinos.

Paulo Madeira

Pese o papel de representação global da modalidade da FAB, os principais agentes do basquetebol são os clubes, quer seja na formação como no basquetebol profissional e os clubes vão estar curtos de fundos para levar a cabo os seus programas de formação e esta é a maior ameaça ao futuro do basquetebol em Angola.

O nosso desporto no geral é muito dependente de fundos públicos e esta dependência fez com que o potencial de realização de receitas próprias fosse negligenciado durante anos. Os nossos clubes e federações precisam de organizar melhor as competições e transformar o desporto num produto de entretenimento e num palco para o desfile de marcas, criando uma plataforma com benefícios mútuos. Com as empresas e famílias mais pobres atrair patrocinadores e pagantes é cada vez mais desafiante, mas não há alternativas a este caminho. O modelo de dependência pública não é sustentável e os nossos objectivos e aspirações exigem formação de qualidade e uma liga competitiva, tudo isto precisa de dinheiro.

No passado, com um grupo reduzido de atletas e de equipas profissionais a selecção angolana de basquetebol masculina contruiu um palmarés impressionante a nível continental mas os anos de domínio inquestionável da nossa selecção parecem estar no fim. Não é expectável que Angola desapareça dos lugares cimeiros nos próximos anos mas ganhar títulos vai ser cada vez mais difícil uma vez que vão emergindo cada vez mais selecções capazes de nos causar problemas, quer sejam suportadas por boas competições internas (como a Tunísia e o Egipto) ou com recurso à atletas da diáspora (como Nigéria, Senegal e Camarões).

O basquetebol feminino enfrenta um futuro cheio de incertezas, com o emagrecimento da principal liga e com o número reduzido de atletas em formação a selecção poderá ver-se afastada dos lugares de topo a nível de África e, consequentemente longe das competições internacionais.

Para o basquetebol masculino, apesar das questões a volta do modelo de financiamento e da organização dos clubes e da federação, tenho melhores expectativas para o futuro próximo. O talento desportivo existe, como demonstra o recente sucesso das selecções de base e o potencial de alguns atletas jovens que já actuam como profissionais e outros que militam ainda na formação, mas o talento é um bicho que come muito, se passar fome jamais atingirá o seu potencial.

Angola tem um grupo de atletas nascidos entre 1990 e 1998 (Grupo 90-98) que nos permitem antever a construção de uma selecção forte. Este grupo poderá contar ainda com alguns jogadores mais experientes nos próximos anos, nomeadamente Carlos Morais, Leonel Paulo e Felizardo Ambrósio. O Grupo 90-98 inclui atletas como Yanick Moreira, Valdelício Joaquim, Bráulio Morais, Gildo Santos, Edson Ndoniema, Jone Pedro, Islando Manuel, Pedro Bastos, Joaquim Pedro, Gerson “Lukeny” Gonçalves, Teotónio Dó e Malik Cissé. Numa segunda linha aparecem jovens como Avelino Dó, Valdir Victoriano, João Jungo, Rifen Miguel, Eric Amândio, Bruno Fernando e Sílvio Sousa.

Sílvio Sousa e Bruno Fernando são hoje as maiores esperanças para que dentro de anos (2/3) seja quebrado o enguiço da presença angolana na NBA. Os antigos atletas do Primeiro d’Agosto são actualmente destaque na Montverde Academy na Florida, a academia tem um dos melhores programas de basquetebol do ensino secundário dos Estados Unidos e de lá saíram recentemente D’Angelo Russell (LA Lakers) e Ben Simmons ainda no campeonato universitário da NCAA (LSU). Bruno Fernando termina o secundário este ano e é considerado o 68.º melhor jogador da classe de 2016 dos Estados Unidos pela ESPN que considera Sílvio Sousa o 2.º melhor jogador da classe de 2018. Também na Florida (West Oak Academy) estão Eric Amândio e Rifen Miguel, ambos jogadores das selecções de base sendo que o primeiro é um base promissor da formação do Petro de Luanda e o segundo vem do Benfica de Lisboa.

Mas como o basquetebol não se resume ao talento disponível para formar uma selecção sénior masculina forte, é preciso ter atenção com todas as maleitas que limitam o aproveitamento do talento que temos a disposição. Penso que já é tempo do nosso basquete cultivar uma relação mais próxima com os Estadso Unidos em detrimento das relações com a escola europeia, sobretudo a nível da formação de treinadores. Temos que encontrar forma de dar mais horas de prática aos atletas da base e fazer chegar a modalidade com alguma significância à mais províncias. É urgente buscar novas soluções de financiamento (patrocinadores, mechandising, negociação de direitos, etc.) que nos permitam desenhar um futuro menos dependente do financiamento público.

Para já, esperar que se resolvam as makas de organização e que os nossos atletas tenham todo o sucesso do mundo.

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