Segundo reportado pela revista Economia & Mercado, um estudo da Accenture revela que 83% dos clientes das seguradoras angolanas quer trocar de seguradora.
83% a querer saltar do barco é muito pouco abonatório para o sector segurador, um sector que segundo dados da ARSEG (Agência Angolana de Supervisão e Regulação de Seguros) gerou um volume de prémios de USD 915 milhões em 2012 e em que operavam 15 seguradoras. O número de seguradoras tem aumentado e os resultados económicos também, boa parte do crescimento não deriva de melhor capacidade comercial mas sim de legislação que favorece o negócio, e isto não é necessariamente negativo. Na verdade, o objectivo por detrás da instituição de seguros obrigatórios específicos é a protecção do património e desta forma beneficiar todos os envolvidos.
Mas na realidade, o benefício global do seguro precisa do cumprimento global das responsabilidades. Não adianta obrigar as pessoas a pagar os seguros se as seguradoras podem “mandar lixar” os segurados sem que sejam punidas. Se 83% dos segurados quer trocar de seguradora, certamente boa parte do sector funciona mal para os clientes e este número não pode ser ignorado nem pela ASAN (Associação de Seguradoras de Angola) nem pelo regulador.
As seguradoras têm um papel fundamental numa economia de mercado não só por protegerem o património mas também pela sua natureza como investidor institucional por excelência, se hoje as alternativas de aplicação de liquidez das seguradoras é limitada pelo próprio desenvolvimento económico de Angola, com o crescimento do mercado de capitais e o aparecimento de produtos de investimento mais sofisticados as seguradoras assumirão um papel de destaque entre os grandes investidores. Em 2012 as seguradoras angolanas tinham cerca USD 1,7 mil milhões em activos (USD 451 milhões investidos) mas o crescimento do sector poderá fazer aumentar estes números exponencialmente se a taxa de penetração passar dos cerca de 1% actuais para, por exemplo, 2% do PIB. Mas este crescimento tem necessariamente de ser acompanhado do aumento da qualidade global do serviço sob pena de estarmos a criar um monstro sustentado por “clientes forçados” pela lei e não clientes conquistados pelo serviço.
No papel, a concorrência fará melhorar a qualidade do serviço no médio-prazo mas a ARSEG tem que garantir que os segurados não só cumprem com os seus deveres mas também, que gozem de todos os benefícios assegurados contratualmente.
P.S: Considerando uma taxa de penetração de 1% e um PIB de USD 131 mil milhões para 2014 (FMI), o sector segurador angolano gerou um volume de prémios de USD 1,3 mil milhões no ano passado. Este número – no critério volume de prémios – torna o nosso sector segurador no segundo maior da SADC a seguir à África do Sul e a frente da Namíbia, o potencial é grande se olharmos para baixíssima taxa de penetração.