Seca no sul

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Comuna da Mupa, Cunene (Fonte: Angop)

A seca, em princípio, é um problema natural sendo que acredita-se que as acções do homem podem contribuir para processos de desertificação ou atrofiar os ciclos naturais de estiagem. Contudo, a ciência existe para servir o homem e sabendo de antemão da existência de ciclos de seca é importante procurar soluções contra cíclicas que permitam atenuar os efeitos da falta de água.

Nos últimos anos, repetidas vezes ouvimos apelos e gritos de socorro vindos do sul de Angola por falta de água, o que compromete a produção agrícola e pecuária e, consequentemente, provoca fome.

Segundo o governador António Didalewa a seca no Cunene afecta 755 mil pessoas e 508 mil cabeças de gado. Estas pessoas estão dependentes de ajuda humanitária urgente, assim como estão outros largos milhares de cidadãos nas províncias do Namibe, Huíla e Kuando Kubango que lutam para sobreviver e manter vivo o seu gado.

Os últimos números a que tive acesso sobre o efectivo pecuário angolano são antigos, 2011, mas indicam claramente o domínio do sul na criação de gado. A fazer fé na fiabilidade dos métodos de registo do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural  em 2011 a região sul (Huíla, Namibe, Cunene e Kuando Kubango) contava com 91% do efectivo bovino e 52% do efectivo caprino. A agricultura e a pecuária têm um papel fundamental na produção económica e no equilíbrio social da região.

As pessoas que hoje se encontram em situação crítica devem ser apoiadas com urgência mas é igualmente urgente encontrar uma solução tecnológica para contrapor estas ocorrências naturais e cíclicas.

Hoje existem pessoas que em situação de desespero (e de um certo desamparo) estão a fazer furos artesianos de forma artesanal para ter acesso à água. Certamente existem meios no país para fazer furos artesianos de forma mais célere e eficaz para atender esta situação de emergência. Contudo, o prioritário é buscar soluções permanentes para situações que já sabemos que ocorrerão periodicamente.

Entende-se que a gestão dos recursos hídricos deve ter uma visão integrada do país para protecção das populações e dos seus meios de produção. A mitigação dos riscos que se materializam na situação actual deve ser feito com compromisso de fundos públicos e soluções suportadas por iniciativa privada. Garantir o abastecimento alternativo de água à região com recurso ao desvio de recursos hídricos mais estáveis de regiões vizinhas ou água subterrânea exigirá planeamento, financiamento e capacidade de execução e é necessário tornarmos isto numa missão nacional como é o combate à pobreza.

Angola is a water-abundant country with 20 percent of Africa’s water resources. However, three decades of civil war have destroyed water systems across the country leaving almost half of the population without access to safe drinking water*

Fonte: Nações Unidas in “Discussion Guide for think MTV Diary of Jay-Z: Water for Life”

Ser a terceira maior economia da África Subsariana e ter 20% dos recursos hídricos de África e ter tantos habitantes em situação tão penosa por falta de água deveria envergonhar-nos a todos. Os efeitos em termos humanos e económicos são potencialmente devastadores, incluindo na questão da criação de uma economia mais diversificada uma vez que a região sul é a maior potência pecuária do nosso território e mantém uma produção agrícola apreciável.

*[Tradução] Angola é um país rico em água com 20 porcento dos recursos hídricos de África. Contudo,  três décadas de guerra civil destruíram os sistemas de água pelo país deixando quase metade da população sem acesso à água potável

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