Solidariedade, responsabilidade e responsabilização

A solidariedade é importante. Numa sociedade é fundamental que exista o hábito de apoiar, que exista compaixão. Contudo, na vida de uma sociedade, mais importante que solidariedade é responsabilidade.

Como o homem é um ser egoísta por natureza, apesar dos apelos para amarmos o próximo como a nós mesmos a nossa natureza coloca sempre o “eu” na frente de tudo. Tendo presente esta realidade ao longo da história da humanidade foram sido criadas normas de organização social que buscam limitar o impacto das nossas acções egoístas que prejudicam o bem estar de outros, os economistas chamam a isto de externalidades, ou seja, o impacto das nossas acções no bem-estar de terceiros.

Para limitar as externalidades negativas o homem criou mecanismos judiciais que devem ter como objectivo manter o equilíbrio social. Por isso, é importante que exista responsabilização caso falhe a responsabilidade.

O grande problema de Angola é precisamente a responsabilização. Vezes sem conta as autoridades falham com o cidadão mas por mais identificadas que estejam as causas e autores o normal é não acontecer nada. Os angolanos são forçados a aceitar a incompetência, a mediocridade e, sobretudo, a irresponsabilidade. Este sistema tem custos elevados no longo prazo porque não cria mecanismos de correcção por via da punição, reina a irresponsabilidade até ao ponto de exaustão. Ponto em que hoje nos encontramos, o sector da saúde é só a “miss do mês” mas se olharmos de perto, a fracturas são visíveis em todos os sectores da nossa vida social como educação e infra-estruturas.

A maior parte dos angolanos não tem acesso à outros hospitais que não os públicos cuja qualidade se vai deteriorando dia após dia com falta de tudo, de pessoal à material gastável. Estamos num país em que os “sortudos” quando adoecem não vão para o hospital, vão para o aeroporto. Estamos num país em que uma geração de filhos dos filhos dos que algo têm são “angolanos nascidos no exterior” porque para muitas pessoas um parto em Angola é demasiado arriscado e um desafio ao juízo. Apesar da gravidade desta realidade, isto não tem sido nem debatido nem responsabilizado.

O número elevado de mortes recentemente registado e reportado no Hospital Pediátrico David Bernardino em Luanda fez soar o alarme que deveria ter soado anos atrás ou, se quisermos ser mais simpáticos, poderia ter soado quando em Junho de 2015 o New York Times publicou a reportagem de Nicholas Kristof “Angola: The World’s Deadliest Place for Kids”. Mas não, depois da reportagem que expôs a gravidade do estado do sistema de saúde em Angola alguns formadores de opinião escolheram descredibilizar a reportagem e hoje cá estamos, gritos e mão na cabeça.

A igreja Católica lembrou o país recentemente dos efeitos da falta de ética e de solidariedade na nossa sociedade, foi uma mensagem importante e o país será melhor se for amplamente acatada. Neste momento de extremo sofrimento para muitas famílias, todo apoio é importante mas para uma solução duradoura temos que mudar a forma de gestão da nossa sociedade.

Angola: The World’s Deadliest Place for Kids

 

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