A primeira proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) do mandato de João Lourenço como presidente de Angola não é propriamente revolucionária. O orçamento parece estar preso à decisões do passado e às restrições impostas pela crise económica que reduziu a economia nacional ao estado anémico que se vive nos últimos anos.
O orçamento apresenta um serviço da dívida recorde para uma economia que não cresce – o Governo aponta para um crescimento 4,9% que contrasta com os 1,6% previstos pelo FMI. O crescimento da dívida pública obrigará o Estado a gastar acima de 30 mil milhões de dólares segundo os cálculos do jornal Expansão em 2018, mais do que está orçamentado para despesas com os sectores da saúde e educação combinados.
O Governo tem estado a contrair dívida para realizar despesa corrente e satisfazer compromissos com credores o que é demonstrativo da necessidade urgente de reformar o Estado. A nossa economia precisa de investimento público de qualidade para poder ter bases para crescer e a população precisa de ser educada com qualidade para que melhore a sua capacidade de competir e criar riqueza e este OGE passa a mesma mensagem do passado, em que a defesa e segurança assumem um papel prioritário (apesar da redução da despesa com estes sectores).
Despesas por função inscritas no OGE: 2017 vs. 2018

O país investe há muito tempo milhões em segurança pública mas não resolve o problema de insegurança nos principais centros urbanos porque a génese é a pobreza e não estamos a tomar medidas que concorram para o crescimento económico sustentável e criação de uma sociedade menos desigual. Um país que quer diversificar a economia não pode continuar negligenciar a necessidade de ter uma população formada com qualidade e não pode reservar apenas 7,4 milhões de dólares para investigação agrícola.
Por outro lado, as dificuldades do Estado em fazer crescer a receita deveriam acelerar o desenvolvimento e execução de um plano de privatizações abrangente capaz de reposicionar o Estado na economia, garantir receitas extraordinárias e oferecer mais espaço e oportunidades aos privados na nossa economia, a privatização da Angola Telecom é um sinal positivo mas não pode ser um caso isolado.