Electricidade e desenvolvimento

Benjamin Franklin dizia que na vida existiam duas coisas certas: a morte e os impostos. Mas para quem cresceu em alguns países africanos no século XX, como em Angola que é o caso que conheço melhor, existem duas coisas certas: vai faltar água e vai faltar luz.

A maka da água e luz é parte integrante do nosso passado e teimosamente vai conservando o seu lugar no presente. Quem não se lembra do grito em coro de um bairro inteiro quando era restabelecido o fornecimento de electricidade no tempo em que não abundavam geradores? E o típico roubo do leitão no casamento quando chegava a penumbra?

O fornecimento deficitário de água e de electricidade tem efeitos transversais na nossa sociedade e é um grande empecilho para o crescimento económico e para o desenvolvimento do país.

O governo angolano tem sinalizado que entende a importância de melhorar a produção e distribuição de energia e água tanto que após a rectificação do OGE o Ministério da Energia e Águas (MINEA na vida real mas que a brincar chamo de “MAL”, acrónimo de ‘Ministério da Água e Luz’). O MINEA está a implementar um plano (2013-2017) que prevê investimentos de cerca de USD 28 mil milhões. Deste plano, a jóia da coroa é a barragem de Laúca que vai adicionar 2070 MW a nossa capacidade de produção e esperamos que a reconfiguração do sector promovida pelo ministério ajude a melhorar a eficiência na produção, transporte e distribuição de energia porque Angola é actualmente o país que mais desperdiça energia produzida em África, como se pode ver no gráfico abaixo.

DesperdicioElectricidade

Mas no que toca ao défice de energia não estamos sozinhos, a Nigéria que anda há alguns anos a promover a privatização do sector eléctrico produz apenas 4.000 MW (a procura está estimada em 13.000 MW) para os seus 160 milhões de habitantes. A cidade de Nova Iorque, por exemplo, tem capacidade de geração de 13.000 MW para cerca de 10 milhões de habitantes.

A disponibilidade de energia em quantidade e qualidade e a preços comportáveis (para quem vende e para quem compra) é uma das chaves para o desenvolvimento económico, sem conseguirmos ultrapassar os grandes desafios do sector de energia e águas não vamos conseguir desenvolver Angola. Muito se tem falado de industrialização e muitas decisões “exóticas” têm sido tomadas em nome do fomento industrial mas é importante relevar que sem electricidade de qualidade e em quantidade não chegamos lá.

A gerador e a vela é impossível ser competitivo. A vela por esta altura deveria ser apenas para o bolo de aniversário e jantares românticos e o gerador – para as famílias e empresas – tem que perder relevância. Os custos de operação de um gerador são muito elevados e pesam grandemente nas contas das famílias, das empresas no geral, das empresas de produção de electricidade com as suas centrais térmicas e do estado que subsidia a geração de energia. Retirar ou reduzir os custos com operação de geradores representa a eliminação de um fardo que é transversal em toda a sociedade e economia angolana.

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