Luanda para Abidjan? A rota é Luanda-Dubai-Abidjan

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Rota da selecção nacional de futebol de Angola de Luanda para Abidjan 

As ligações rodoviárias, ferroviárias e aéreas entre países africanos não são propriamente abundantes. Por esta razão, para jogar contra a Côte d’Ivoire (ou Costa do Marfim) em Abidjan a selecção nacional de futebol teve que ir primeiro ao Dubai (foto acima).

Desde a fundação das companhias nacionais africanas no período pós-colonial, apesar de se viver o apogeu do panafricanismo, curiosamente, quase todas companhias priorizaram o estabelecimento de ligações com as antigas colónias e outras cidades europeias e a situação tem vindo a evoluir muito lentamente desde então apesar da Declaração de Yamoussoukro tomada em 1988 na Côte d’Ivoire (adoptada em 1999 pela União Africana) visar a liberalização do espaço aéreo africano a semelhança do que aconteceu em outras geografias.

A liberalização do espaço aéreo de forma abrangente (multilateral) ou para rotas específicas (acordos bilaterais) tem várias vantagens como demonstrou o estudo patrocinado pela IATA “Transforming Intra-African Air Connectivity: The Economic Benefits of Implementing the Yamoussoukro Decision”Africa_IATA
O mapa acima apresenta os benefícios económicos e sociais potenciais da liberalização das rotas intra-continentais para doze países. O estudo concluiu que Angola poderia criar mais 15 mil postos de trabalho e ver aumentar os passageiros em mais de 530 mil com os benefícios para os consumidores a superarem os USD 110 milhões, sobretudo por via da redução das tarifas.

O número reduzido de ligações entre países africanos poderá ter várias explicações como a instabilidade política, o subdesenvolvimento, o fraco volume de comércio entre os países ou a falta de interesse no turismo continental por parte dos africanos. Por outro lado, estas justificações são interdependentes e poderão mesmo ser explicadas por falta de ligações entre os países; um verdadeiro caso da galinha e do ovo.

Apesar de existirem situações gritantes (falta de ligação a Kinshasa e Brazzaville), Angola é ainda dos países com mais ligações para outros países africanos, designadamente África do Sul (Joanesburgo e Cidade do Cabo), Cabo Verde (Cidade da Praia), São Tomé & Príncipe (São Tomé), Namibia (Windhoek), Moçambique (Maputo), Marrocos (Casablanca), Etiopia (Adis Abeba), Nigéria (Lagos) e Quénia (Nairobi) . E para fora de África, partindo de Luanda, é possível viajar directo para Lisboa, Porto, Paris, Amesterdão, Frankfurt, Madrid, Londres, Houston, Bruxelas, Dubai, Pequim, Havana, Rio de Janeiro e São Paulo.

As viagens a partir de África e para África continuam a ser caras apesar da evolução positiva em algumas rotas que viram crescer a sua frequência recentemente (no nosso caso servem de exemplo Joanesburgo e Lisboa). Estas viagens são caras essencialmente porque as rotas são protegidas pelos governos que procuram defender os interesses de companhias nacionais ineficientes mesmo que isto custe empregos e riqueza aos seus países.

Olhando para o turismo, que é dependente da mobilidade e acesso aos destinos, o nosso sector para desenvolver-se terá não só que melhorar as infraestruturas, serviços e estrutura de custos como terá que ver uma revolução no lado dos acessos ao nosso solo. Melhor acesso só será possível com maior flexibilidade fronteiriça (isenção e/ou facilitação na concessão de vistos) e liberalização do espaço aéreo. Alguns países africanos já deram passos importantes neste capítulo, como (i) Marrocos que tem um acordo com a União Europeia e viu aumentar exponencialmente o número de voos para o seu país com efeitos no turismo em particular e na economia como um todo; (ii) a África do Sul tem vários acordos de isenção de vistos e de liberalização do espaço aéreo (incluindo acordo de liberalização do espaço aéreo com o  Quénia);  e (iii) Cabo Verde que busca um acordo com a União Europeia que deverá levar ao arquipélago companhias Low Cost europeias com o intuito de fazer crescer o volume de turistas.

O aumento das ligações intra-africanas permite ganhos transfronteiriços porque os operadores turísticos podem passar a a vender pacotes para vários países mais facilmente, assim como pode fazer crescer o segmento dos city-break (viagens de curta duração) das principais capitais do continente.

Como mencionado acima, o proteccionismo não explica totalmente a fraca oferta de viagens directas entre países africanos. Existem factores culturais e políticos, como a instabilidade política em alguns países e o processo de integração regional lento. Angola, por exemplo, integra a SADC mas só tem acordos de isenção de vistos com dois países da comunidade (Namibia e Botswana) e ligação directa apenas para 3 (África do Sul, Namibia e Moçambique) dos 14 países.

Maior integração política e económica conduz a melhoria nas infraestruturas continentais que afectam positivamente o comércio e o turismo entre países, assim como conduz à eliminação das barreiras a mobilidade. Assim, viajar passa a ser mais barato e menos cansativo.

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