Actualmente, a “santa” mais popular em Angola é a “Nossa Senhora da Diversificação”. O número de “devotos” cresce a olhos nús, assim como as “missas” que se multiplicam todos os dias.
Sempre que se fala em diversificação da economia, o sector agrícola merece especial atenção. O sector agrícola é um grande empregador e o potencial produtivo do país é subejamente conhecido mas o sector continua longe de estar ao nível que poderia estar, contudo, existem sinais positivos, sobretudo de projectos empresariais privados.
Na passada semana li notícias sobre dois grandes projectos agro-industriais: (i) Biocom em Capanda (Malange) e (ii) Fazenda Santo António na Kibala (Kwanza Sul).
No projecto de Malange, só para unidade de produção de açúcar, foram investidos cerca de USD 500 milhões. O projecto que para além da Sonangol e Cochan tem a Odebrecht como sócia, conta com técnicos brasileiros para a operação produtiva. A gestão da empresa diz que serão investidos USD 15 milhões na capacitação de quadros nacionais que hoje já asseguram grande parte das actividades.
O projecto do Kwanza Sul engloba a produção de milho, a produção de ração e a criação de animais. A fazenda já consumiu cerca de USD 29 milhões em investimentos e espera produzir 20 mil porcos por ano. Os investidores são o banqueiro Fernando Teles e duas empresas portuguesas com experiência na agricultura.
Nos dois casos, salta a vista o binómio financiamento/capacidade técnica que é decisivo na produção agrícola. Infelizmente, o grosso dos intervenientes no sector agrícola tem dificuldades de acesso ao financiamento e tem muitas limitações técnicas que, naturalmente, resulta em sub-produção e/ou em produtos abaixo do nível exigido pelos clientes.
Sem entrar na questão do escoamento da produção – que é menos problemática para os grandes investidores que por diferentes razões têm mais influência política, informação e contactos que os produtores familiares – os casos da Biocom e Fazenda Santo António ajudam-nos a perceber que a quantidade produzida dependerá sempre dos meios financeiros, humanos e técnicos aplicados no projecto ou campanha.
Sabendo que boa parte do sector agrícola é constituída por pequenos produtores, é fundamental pensar em cooperativas ou associações que juntem pequenos produtores e que possam ser financiadas, partilhar equipamentos e organizar sessões e cursos de formação para os seus beneficiários.
Se o modelo de produção com partilha de meios por parte dos pequenos produtores correr como nos livros, o principal beneficiário será a economia angolana que ganha mais produção, mais emprego, mais educação, mais consumo e menos importações e, se a coisa correr muito bem, ganhamos também mais exportações.